"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

Tag: sociedade (Page 1 of 3)

Sobre hiatos, enxaquecas e fragilidade.

Compartilhe:

Lá se vai quase uma semana do último texto

Tudo bem, a intenção definitivamente não é tratar isso aqui como uma obrigação, né, mas mesmo assim. No entanto, há que se ressaltar que a última semana foi… intensa. Filha doente, depois eu doente – coisas da vida.

Pelo menos meu eu lírico parece estar começando a chegar perto da velha forma. Digo isso, pois, conforme os dias passam, leio notícias, textos, converso e ouço pessoas conversarem e o “opa, isso dá um bom texto” voltou a pular na minha cabeça.

Hoje num deve sair nenhum desses porque eu realmente to, como diria minha falecida vó, todo piriripotético (que é algo como mais pra lá do que pra cá). Ontem eu tive uma enxaqueca filha da puta, dessas de ir pro hospital, que eu nunca tinha tido na minha vida – e minha mente tá fisicamente confusa ainda. Tá louco.

A gente é frágil demais, num é? É de se pensar.

E num tô falando sobre pensar em morte não, nada disso, mas principalmente como o ser humano é meio bostão mesmo. Beleza, a gente evoluiu nosso cérebro a ponto de inventar e construir coisas que nos permitam viver bem e por muito tempo (até mais tempo do que o ideal, acho), mas quando a gente olha só pra gente mesmo, como indivíduo de carne e osso, a gente é… frouxo frágil.

E isso leva pra milhares de outras reflexões que se eu começar agora isso aqui vira um manifesto, embora seja impossível não mencionar o nível da nossa arrogância nessas horas.

Pensem no que fez um vírus com aproximadamente 6,5 milhões de pessoas no planeta todo (números de 18/10/2022)? Ou no fato de que em vez da gente perder tempo pensando em melhor alimentação, menos carro parado no trânsito, menos poluição, mais tempo livre, essencialmente previnir, a gente prefere remediar mesmo, e de maneira quase literal: é remédio pra controlar pressão, glicemia, estresse, insônia… porque essa é a lógica que a gente escolheu pra gente mesmo, num é? Liberdade pra foder tudo sem medo de ser feliz, desde que possamos contornar tudo gastando dinheiro com remédios e promessas vazias.

Isso me faz lembrar de uma música do Pain of Salvation que pra mim é brilhante ao tocar nesse tema. Trecho “tapa na cara” abaixo:

“Could someone please just tell me what happened? I mean, first we paid for fast-food that will make us all fat and tired. So then we pay for elevators, so we won’t have to climb the 3 stairs up to our apartments. Then we buy freaking stairmaster machines so we can burn away while watching someone make real food on TV. Now if that doesn’t make us winners, I don’t know what will. I bet we would hang ourselves if the world would just cut us a slack. And now you think maybe you should see a shrink, help (me) feel alive again, yeah, that’s a plan! Just tell us who to pay”

Kingdom of loss, Pain of Salvation

E sim, isso tudo porque tive enxaqueca um dia todo, passei 4h no hospital, saí com o famoso “olha, pode ser um monte de coisa ou só uma dor de cabeça forte mesmo” e fiquei pensando em como a gente é completamente suscetível ao imponderável.

Esse saiu do pâncreas. Espero que não tenha ficado (muito) desconexo.

Até a próxima. Ah, e façam seus exames.

0
0

O condomínio e o Brasil

Compartilhe:

Às vezes é fácil entender a alienação política dos nossos concidadãos só observando comportamentos do dia a dia. Moro num condomínio em São Bernardo do Campo onde vivem algo em torno de 2000 pessoas (sim, duas mil). É maior que a cidade da minha vó no interior de SP.

Mudei pra cá no começo do ano passado durante a eleição para síndico, que rolava em meio a discussões de corrupção do antigo síndico e ineficiência na gestão do local, com muitas coisas por reformar, pouca segurança e por aí vai (soa familiar, já?). Bom, o candidato desafiante vinha com um discurso sóbrio, conservador e prometendo “mudar e investigar tudo isso aí” (minhas aspas). Foi eleito.

De 1 ano pra cá, pouquíssima coisa foi feita no condomínio, normalmente com a famigerada justificativa “porque na última gestão…“. Não falo de grandes obras ou reforma, vejam: botões de elevador estão caindo, mostradores de andar queimados, os leitores de digital da portaria são horríveis etc etc etc. Quando questiona-se o síndico ou a administração, duas coisas normalmente acontecem: ou ninguém responde ou o síndico dá uma resposta genérica normalmente levando o foco pras prioridades (de quem?).

Pra além disso, a população do condomínio é bem letárgica. Ninguém parece estar incomodado se não é algo que afeta intimamente suas vidas, como cigarro do vizinho (🙄) ou infiltrações; querer um condomínio melhor pra todo mundo parece não fazer muito sentido pra essa gente.

Durante uma reunião de condomínio, um dos moradores (da minha torre, por sinal) disse: “eu sou fã do sr. Síndico. Sou fã mesmo. Eu mando mensagem e ele responde rapidinho no WhatsApp”. Outra disse que “não entendia porque cadeirantes e/ou portadores de necessidades especiais tinham prioridade na escolha das vagas no estacionamento, afinal, alguns desses deficientes (sic) eram mais ativos que ela”.

Troque condomínio por cidade, estado ou país.

De nada.

Boa sexta.

2
0

Próxima estação, brisa de Terça

Compartilhe:

Eu tenho uma relação esquisita com metrôs. Sempre que eu viajo (a trabalho ou a lazer) eu sempre prefiro usar o metrô local pra fazer as coisas. Aqui em São Paulo ele não é exatamente um primor de serviço (aliás, bem longe disso), mas eu realmente gosto da sensação de me deslocar por baixo da cidade.

Existe, pra mim, uma mística e uma mágica nesse meio de transporte que eu num sei bem como explicar. Primeiro que eu já acho muito doido o fato de ter um treco que se locomove embaixo da cidade (quando não EMBAIXO DO RIO) levando milhares de pessoas pra lá e pra cá.

Metrô de Buenos Aires (foto: Alê Flávio)

Depois que, na minha opinião, nenhum outro tipo de transporte concentra tanta gente diferente, em um mesmo local, por tanto tempo e te dá a oportunidade de observar uma versão em menor escala da sociedade. Um vagão é um pequeno Estado, vivo, real, fascinante; é possível aprender todo tipo de coisa só de passar alguns minutos observando a vida acontecer naquele micro-cosmo – e é, também, possível se reconhecer.

Todo mundo é igual dentro do metrô, ou pelo menos deveria ser. Ele não anda mais rápido porque o engravatadinho tá atrasado e também não para fora do ponto pra dona bonita entrar. Parafraseando o Gandalf n’A Sociedade do Anel: “um metrô nunca está atrasado. Ele chega precisamente quando deseja chegar1. Tá, talvez eu tenha exagerado nesse final.

O metrô percorre um trajeto que, via de regra, só uma catástrofe o faz desviar; é a representação material do Destino (se é que existe tal coisa), em que algo sai de um lugar e chega em outro pré-determinado.

Metrô é legal demais.

Abraços

1. Curiosidade: no filme, porque essa frase não está no livro.

5
0
« Older posts

© 2024 Alê Flávio

Theme by Anders NorenUp ↑

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com