Dando uma vasculhada aqui no WordPress, achei um monte de texto começado (eu não sempre falo que nunca termino as coisas?) e, incrivelmente, esse aqui que tava prontinho e nunca foi postado.
O texto foi escrito, segundo o rascunho aqui, em Dezembro de 2017 e, infelizmente, segue atual. A gente não consegue melhorar e mal sabia eu que a gente ainda ia piorar.
Outro dia, voltando do almoço, ouvi uma senhora berrando no telefone com um atendente (pelos berros, da Vivo). E pra vocês terem uma noção do que quero dizer com “berrando”, eu estava no cruzamento da JK com a Faria Lima, um dos lugares mais barulhentos de São Paulo, e podia ouvir a mulher claramente – e ela nem estava tão perto de mim assim. Eu comecei a prestar atenção de fato quando a moça, que não tinha mais do que 50 anos, berrou: “Quem é o imbecil que está falando agora? Que merda você vai me propor agora?”.
Pesado, né? Digo, quem nunca passou raiva tentando resolver um problema no telemarketing? É normal. Sempre que a gente liga pra uma dessas centrais de atendimento é porque temos um problema pra resolver e, via de regra, ninguém gosta de resolver problema. Além disso, quando a gente tá irritado a gente sempre procura alguém pra botar a culpa – e nesse caso é sempre do atendente. Mas o que me fez escrever esse texto não foi necessariamente discutir quem está certo ou errado numa dessas situações, mas sim, o que está acontecendo com a nossa empatia, com as relações que deveríamos estar construindo?
O que, de fato, leva alguém ficar tão ensandecido a ponto de berrar para uma pessoa desconhecida que ela é imbecil, incompetente ou afins embora, mal ou bem, esteja ali pra tentar nos ajudar a resolver algo? Quando foi que paramos de nos colocar no lugar do outro? É claro que em todos os ramos existem pessoas ruins em seus trabalhos, mas isso ainda não nos dá o menor direito de tratá-las como um serviçal que só está ali pra cumprir nossos desejos. Estamos caminhando, moribundos, ao precipício da ignorância e pequenez. Só olhamos pras nossas pequenas telas e nossos enormes egos; o outro é o outro e que se foda. Se eu tenho um problema alguém tem que resolver – meu dever é esperar a solução.
E o pior é que isso vem se espalhando que nem um vírus. Principalmente aqui em São Paulo, essa cidade doente, o pavio das pessoas está cada vez menor, no trabalho, na rua, nas lojas, em todo lugar; estamos vivendo em uma época em que, às vezes, estamos andando calmamente por uma calçada, quase somos atropelados por um carro saindo acelerado de uma garagem (porque, além de tudo, todo mundo tem pressa, não se sabe porquê, mas tem) e ainda somos xingados como se estivéssemos errados.
A gente passa raiva sim (eu passo raiva pra caralho), mas, a partir do momento em que começo a derramar essa baba de ódio sobre os outros, o problema vira uma epidemia¹. Essa falta de empatia é como uma doença não tratada: se você ignora o diagnóstico e não aplica o tratamento, ela cresce e toma conta de você; quando você se dá conta, já se perdeu em meio à escuridão.
Pratique a gentileza. Ajude a sociedade se curar.
É melhor pra você, pra mim e pra todos.
1 Olha eu sendo profético…