Chega um momento na vida (ou vários momentos, pra ser sincero) que a gente se sente que nem o Sísifo, naquele mito grego: rolamos nossa pedra pra cima do morro com sufoco e, como se uma força externa começasse a agir, a pedra volta sozinha lá pra baixo e temos que começar tudo de novo. O fato é que a vida é um pouco rolar a pedra morro acima dia após dia; a pedra é um pouco de tudo, o trabalho, as relações pessoais, as contas no banco, a revisão do carro, a renovação da CNH, o trem cheio e por aí vai.
A gente se acostuma, é verdade. De alguma maneira sabemos que não tem muito o que fazer, a não ser fazer. E, pra ser sincero, diferentemente de Sísifo, cujo trabalho repetitivo e inglório era sua punição diária, no nosso caso normalmente há uma recompensa em cima do morro, seja a vista, seja uma árvore pra sentar à sua sombra.
Na minha opinião, não há problema em ter que rolar essa pedra dia após dia – a pedra são nossos desafios e objetivos e ninguém além de nós pode rolá-la; não se pode terceirizar esse trabalho, como muitas vezes tentamos fazer com coisas que não queremos resolver.
A questão é que chega um ponto em que precisamos mudar a pedra, a maneira ou o caminho que usamos pra levá-la morro acima. Chega um ponto em que você se sente rolando a pedra e não obtendo nenhuma recompensa ao fim (igualzinho ao mito) e, em pessoas ansiosas como eu, isso gera um senso urgente de mudança e medo. E como algumas mudanças não dependem apenas da gente, normalmente o medo vira uma nuvem pesada de chuva sobre o caminho – a pedra parece mais pesada, o caminho mais escorregadio e você acredita que, a qualquer momento, vai escorregar e ser esmagado.
Mas, enquanto pudermos vislumbrar o alto do morro e lembrar da sombra ao pé da árvore ou da ampla e limpa vista, a pedra nunca será mais pesada que nossa determinação em levá-la até o topo.
Às vezes, todos somos um pouco como Sísifo. E isso não é ruim.
Abraços.