"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

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Domingo

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Domingo é um dia bem bizarro.

Tem gente que ama. Gente que odeia. Eu sou do último grupo.

Existe uma aura no domingo, sobretudo do meio da tarde em diante, que me deixa desconfortável, esteja eu largado no sofá de casa, esteja eu alcoolizado no meio de um churrasco.

É como se o domingo fosse aquele respiro antes do mergulho num oceano infindável sem saber quando (e se) vai respirar de novo.

Dizem que o no domingo recarregamos as baterias – o problema é que, geralmente, eu não acho a tomada.

Vai entender.

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Uma escolha muito difícil

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Já faz um tempo que eu não apareço aqui, eu sei. Tudo bem que todos sabíamos que isso ia acontecer, não é mesmo? De qualquer maneira, cá estou.

Essas últimas semanas eu tenho brigado, dentro dessa cabeça caótica que Deus me deu, sobre qual dos dois temas a seguir eu vou escrever primeiro: sucesso, dinheiro e intelectualidade (graças ao nosso querido Lemon Dusk, o herdeiro inepto) ou, como estamos em Copa do Mundo,  sobre futebol e suas “opressões veladas”.

Eu poderia escrever sobre os dois meio que duma vez, como o Cris Dias normalmente faz em suas newsletters, mas aí temo que possa virar um texto tão grande que, sinceramente, ninguém vai ler (escreveu ele num texto que talvez ninguém esteja lendo).

Daí o que eu decido? Escrever um TERCEIRO texto falando sobre a dificuldade que é decidir um tema de texto. É o puro suco de Alê.

Eu nem consigo dizer mais que eu procrastino – é todo um novo nível de procrastinação o que eu faço; devia, inclusive, ser esporte olímpico. Tá louco.

Mas falando sério, quantas vezes vocês não estão diante de, sei lá, 2 ou 3 coisas que precisam de fato fazer mas, no fim das contas, acabam fazendo uma outra completamente nada a ver e menos importante? Eu não acho, no fundo, que isso tenha a ver com procrastinação não, acho que é fuga mesmo. Às vezes fuga da responsabilidade, fuga de lidar com o resultado da tarefa em si, fuga da realidade, sei lá.

A fuga é um sentimento complexo e interessante. A gente faz terapia essencialmente porque a gente foge de nós mesmos, o que acaba desencadeando outros tipos de fuga (a Bruna vai me matar com essa simplificação preguiçosa do processo terapêutico 﫣).

É claro que eu não sou maluco de reduzir toda uma condição complexa humana ao cagaço de alguma coisa, mas se eu tivesse a mínima condição de ser um filósofo, ia transformar isso aí no meu tema de estudo. Seria um “efugologista”, (do latim effugere, “sair fugido”) – termo que cunhei agora, afinal, tá trânsito e eu tô sem ter o que fazer.

É isso. E você, foge muito tal qual Meynar da Receita Federal?

Abraços

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Sobre hiatos, enxaquecas e fragilidade.

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Lá se vai quase uma semana do último texto

Tudo bem, a intenção definitivamente não é tratar isso aqui como uma obrigação, né, mas mesmo assim. No entanto, há que se ressaltar que a última semana foi… intensa. Filha doente, depois eu doente – coisas da vida.

Pelo menos meu eu lírico parece estar começando a chegar perto da velha forma. Digo isso, pois, conforme os dias passam, leio notícias, textos, converso e ouço pessoas conversarem e o “opa, isso dá um bom texto” voltou a pular na minha cabeça.

Hoje num deve sair nenhum desses porque eu realmente to, como diria minha falecida vó, todo piriripotético (que é algo como mais pra lá do que pra cá). Ontem eu tive uma enxaqueca filha da puta, dessas de ir pro hospital, que eu nunca tinha tido na minha vida – e minha mente tá fisicamente confusa ainda. Tá louco.

A gente é frágil demais, num é? É de se pensar.

E num tô falando sobre pensar em morte não, nada disso, mas principalmente como o ser humano é meio bostão mesmo. Beleza, a gente evoluiu nosso cérebro a ponto de inventar e construir coisas que nos permitam viver bem e por muito tempo (até mais tempo do que o ideal, acho), mas quando a gente olha só pra gente mesmo, como indivíduo de carne e osso, a gente é… frouxo frágil.

E isso leva pra milhares de outras reflexões que se eu começar agora isso aqui vira um manifesto, embora seja impossível não mencionar o nível da nossa arrogância nessas horas.

Pensem no que fez um vírus com aproximadamente 6,5 milhões de pessoas no planeta todo (números de 18/10/2022)? Ou no fato de que em vez da gente perder tempo pensando em melhor alimentação, menos carro parado no trânsito, menos poluição, mais tempo livre, essencialmente previnir, a gente prefere remediar mesmo, e de maneira quase literal: é remédio pra controlar pressão, glicemia, estresse, insônia… porque essa é a lógica que a gente escolheu pra gente mesmo, num é? Liberdade pra foder tudo sem medo de ser feliz, desde que possamos contornar tudo gastando dinheiro com remédios e promessas vazias.

Isso me faz lembrar de uma música do Pain of Salvation que pra mim é brilhante ao tocar nesse tema. Trecho “tapa na cara” abaixo:

“Could someone please just tell me what happened? I mean, first we paid for fast-food that will make us all fat and tired. So then we pay for elevators, so we won’t have to climb the 3 stairs up to our apartments. Then we buy freaking stairmaster machines so we can burn away while watching someone make real food on TV. Now if that doesn’t make us winners, I don’t know what will. I bet we would hang ourselves if the world would just cut us a slack. And now you think maybe you should see a shrink, help (me) feel alive again, yeah, that’s a plan! Just tell us who to pay”

Kingdom of loss, Pain of Salvation

E sim, isso tudo porque tive enxaqueca um dia todo, passei 4h no hospital, saí com o famoso “olha, pode ser um monte de coisa ou só uma dor de cabeça forte mesmo” e fiquei pensando em como a gente é completamente suscetível ao imponderável.

Esse saiu do pâncreas. Espero que não tenha ficado (muito) desconexo.

Até a próxima. Ah, e façam seus exames.

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