Devia ser um barato ser o Fernando Pessoa.
Sempre dizem que das duas, uma: ou o Pessoa era um gênio, e sabia disso, ou era esquizofrênico e, efetivamente, vivia dezenas (talvez centenas) de vidas diferentes. Mas o que isso, de fato, importa no final?
Tive um professor na faculdade que sempre dizia que, por mais difícil que seja, não podemos deixar que a vida pessoal do escritor vire parâmetro principal de análise de suas obras. E acho que é bem por aí. É óbvio que as experiências vividas pelo escritor fazem parte de seus textos, assim como os músicos são influenciados pelo que – e por quem – ouvem, mas daí a começar a ler um determinado autor tendo por base que ele “era negro, pobre e tuberculoso” ou “não mantinha residência fixa em lugar nenhum“, é outra coisa.
Se o Pessoa foi, ou não, esquizofrênico, o brilhantismo dos seus textos e sua absurda variação estilística segue lá – e continua sendo um deleite, para pessoas como eu, imaginar que Pessoa fez com que Caeiro, Reis e Campos se conversassem… acho isso demais, e ponto. E tem gente que critica dizendo que isso é fugir da realidade. E daí? É um problema? De certa forma, numa análise fria e amadora, os livros não são uma forma pra o leitor sair da tal realidade e entrar num mundo completamente diferente e viver, por extensão, outra vida?
Hoje em dia é muito difícil você criar pseudônimos, heterônimos e outros ônimos por aí. Sempre tem alguém que passará o dia vasculhando a internet pra descobrir algo sobre o autor e, fatalmente, descobrirá que ele é outro e não um, sabem? Vejam a tal Rowling, que lançou livro sob um pseudônimo e quase que instantaneamente todos já sabiam que ela não era ela, ou era… sei lá. Aí bate a dúvida: as pessoas leram o livro novo porque queriam ler, ou porque “era o novo livro da autora do Harry Potter”? Jamais saberemos, como diria a Erika.
Devia ser um barato ter um pseudônimo/heterônimo e nunca ser descoberto.
E, sim, eu sei a diferença entre os dois. 🙂
É isso.
Deixe um comentário