A partir desse domingo, 23/01, toda semana um texto novo aqui sobre qualquer coisa.
Será que vai?
(ps.: Não, não tenho nada escrito ainda e tô postando isso de um ônibus.)
"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"
Às vezes tenho vontade de chorar, assim, do nada. E nem é por lembrar de nada triste, ou ficar emocionado com uma memória feliz – é só o nó que dá na garganta e, aparentemente, só se resolve com um choro bem dado.
Não sei se é meu inconsciente consciente de que está no limite e precisa vazar pra algum canto; não sei se é minha alma querendo mais calma e, portanto, buscando desinflar; não sei se é só meu lado canceriano querendo ser… óbvio.
Mas a verdade é que, às vezes, tenho vontade de chorar enquanto olho pro vazio e penso em absolutamente nada.
Às vezes eu choro.
Às vezes não.
Hoje, não chorei.
Meu vô, ironicamente, faleceu no último dia 24/03 aos 89 anos. Ironicamente porque esse texto, essencialmente, fala de renovações, novas vidas, novos inícios – mas eu não queria publicá-lo sem uma pequena menção ao meu vô.
Que o Seu Tonico descanse em paz e, lá do cantinho no Céu em que ele está agora (definitivamente ouvindo o Tonico e Tinoco ao vivo) ele sempre abençoe e olhe pela pequena Babi que vem por aí.
No fim do ano passado, mais precisamente em 23/11, eu e a minha excelentíssima agora esposa Bru nos casamos. Aquela coisa de estar tão louco um pelo outro que a gente resolveu até por o Estado no meio do relacionamento.
A gente já morava junto há um bom tempo e, pra todos os efeitos, éramos namoridos. Então, teoricamente, nada muda né? É só uma festa com os amigos e família pra celebrar e tal: churrasco, cerveja, pulos na piscina.
Não sabíamos de nada.
Primeiro que muda sim e é um troço doido. Dentro da sua cabeça um interruptor liga e a relação fica mais íntima, verdadeira e foda; é sério – você passa a olhar pra relação com outros olhos e outras expectativas e, pelo menos no nosso caso, uma sensação de estar no melhor momento do nosso relacionamento, da nossa vida.
Sabíamos menos ainda.
Lua de mel em Salvador (aquele lugar incrível que puta que pariu depois que você ler esse texto vai comprar uma passagem e conhecer). Dias maravilhosos. O Farol da Barra, literalmente uma Tarde em Itapoã, Caruru escorrendo do prato e a água escorrendo da garrafa de cerveja geladíssima. Um calor saariano, mas que não fazia diferença, já que a energia indescritível dos Orixás, as cores do Pelourinho e os cheiros apimentados dos Vatapás, os atabaques dos Terreiros, faziam com que a gente se sentisse (talvez pela primeira vez?) no Brasil real. Uma semana que dificilmente seria superada tão cedo.
Atingimos o topo de nossa ignorância.
Alguns dias depois, de volta à velha rotina em São Paulo, alguma coisa não estava exatamente igual, dizia a Bru; desde de Salvador tinha algo acontecendo com ela, com o corpo, com a essência. Óbvio né, afinal, uma descarga de energia daquele tamanho (é sério, leitor, SALVADOR É FODA) muda as pessoas – mas não era exatamente isso. A Bruna, pra quem não conhece, é absurdamente sensível – ela sente cheiros, ouve sons, vê e sente coisas quando ninguém mais vê ou sente; ela tá sempre um passo à frente e, se ela diz que tem alguma coisa diferente, tem alguma coisa diferente.
E foi sob esse véu de inquietude e desconfiança que tudo mudou. Dia 23/12/2019, dois dias antes do Natal, a ignorância se transformou em sabedoria, que nos contava: vocês serão pais.
Sim, eu vou ser pai. Pai… meu Pai, e agora? Em alguns meses (depende da conta que você faz e sim contar em semana faz mais sentido – minha primeira lição na paternidade) vêm a esse mundo maluco um ser puro, ingênuo, pedindo para ser cuidado e moldado e que dependerá de mim pra sempre, de maneiras diferentes. Justo eu, que não consigo nem cuidar de mim direito… mas desse eu vou cuidar. Ah vou.
Eu farei de tudo pra que essa criança sorria sempre que tiver que sorrir e que chore litros, quando for hora. Pra que grite quando estiver insatisfeita, mas que entenda que tem vezes que a gente engole seco a insatisfação e tá tudo bem. Pra que saiba o tempo todo que eu e a Bruna estaremos sempre com ela, ainda que não fisicamente, por vezes. Pra que saiba que o mundo às vezes é uma bosta, mas na maioria das vezes é colorido e alegre como um bloco de carnaval.
É claro que eu ainda não entendi nem metade do que tá acontecendo, eu meio que só tou fingindo. Esse texto, por exemplo, está parado há semanas, porque nada do que eu escrever vai 1) conseguir expressar absolutamente o que se passa aqui dentro e 2) capturar o tamanho e a importância desse momento que estamos vivendo. A ficha vem caindo devagar, bem aos pouquinhos, quase parando e eu sei que, quando ouvir aquele primeiro chorinho de desespero de ter uma coisa estranha entrando em seus pulmões, eu vou entender totalmente que tudo mudou.
Eu não vejo a hora de escutar esse choro.
Te amo, Bruna.
Te amo, pequena Babi.
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