"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

Categoria: Pessoal (Page 2 of 7)

O controle não existe. At all.

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Faz um tempo que eu num apareço por aqui. Tenho ficado mais no meu caderno ou, o que é pior, dentro da minha cabeça.

Eu sempre digo que escrever me ajuda a ventilar e, sobretudo, a colocar as coisas em perspectiva. É piegas, mas é verdade. Mas colocar as coisas em perspectiva é, em alguns casos, se dar conta do caminho à frente.

E nem sempre o caminho à frente é uma estradinha de tijolos amarelos.

Aí a gente num coloca nada em perspectiva e deixa as vozes da cabeça (obrigado por esse episódio, Cris!) falando cada vez mais alto. E as vozes da nossa cabeça não falam necessariamente o que a gente quer ouvir né. Daí, caos, dedo no cu e gritaria – e haja dipirona.

A vida é um negócio bem complexo. Não, sério, é BEM complexo. A gente tende a simplificar pra conseguir lidar com ela, mas no geral é um troço muito sem sentido. A gente (eu incluso pra caralho) romantiza muito com essa coisa de “não, as coisas são simples, a gente que complica“, mas na verdade eu acho que é o contrário, viu.

Acho que só quando a gente aceita que as coisas são complexas e que, por mais que você tenha toda a vontade do mundo pra direcioná-las pra uma resolução que ajude aquele bolo de angústia na garganta se desfazer, nunca vai ser possível se antecipar às aleatoriedades do Deus jogador de The Sims (referência ao grande amigo Gus Ramalho).

E eu odeio não ter controle sobre coisas que me fazem querer pular de uma ponte. E não adianta minha terapeuta ter falado os últimos, sei lá, 8 anos que “as coisas são assim, Alê, tem coisa que a gente não controla mesmo“. Eu sei que a gente não controla uma porrada de coisa, mas caralho e eu faço o que? Morro de gastrite? Grito até ficar rouco? Pulo, finalmente, da ponte? Que saco.

Tá, eu sei, vocês dirão “faz terapia, conversa com um amigo, bebe”. Legal, isso resolve… por um tempo – mas o simples fato de saber que algumas dessas coisas vão voltar a acontecer (porque é isso que a vida é) já faz eu sentir meu estômago virar, a cabeça doer e a garganta fechar.

Mas é isso. No fim das contas eu num quero uma solução, não. Só tou vendo se, ao colocar as coisas pra fora de maneira crua e “pública” e sem pensar no que eu tou escrevendo ajuda.

Veremos.

Abs

PS.: Relaxem, não vou pular de uma ponte.

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Nem Machado, nem medíocre

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Essa coisa que escrever frequentemente traz um desafio interessante pra mim além da frequência em si: não pensar muito pra escrever. Eu nunca me achei nenhuma espécie de gênio da escrita, mas também nunca quis ser ordinário e, por essa razão, as ideias ficavam (ficam) cozinhando na minha cabeça até queimarem.

Existe uma (grande) parte de mim que sempre tratou a escrita quase como uma espécie de ofício transcendente em que não se podem desperdiçar palavras. Isto é, se for pra escrever que seja digno de ser anunciado com trombetas pelos arcanjos de Deus e tal.

Suave, né? Agora tenta imaginar minha cabeça. Pois é.

Dentro dela é barulhento e eu sempre consegui colocar um mínimo de ordem – porque calar jamais consegui – escrevendo. Foram (ou são?) várias fases: de poesias cuidadosamente metrificadas no ensino fundamental, passando por letras complexas, pretensiosas e em inglês de rock progressivo no ensino médio até chegar em posts sem pé nem cabeça inúmeros blogs, contos concluídos ou pela metade, projeto de livros e a lista segue.

Em comum nisso tudo sempre essa relação com uma inspiração que vem do além e me faz escrever. Pra mim meus escritores preferidos sempre tiveram uma espécie de dom sobrenatural pra colocar as coisas no papel; talvez alguns até tivessem mesmo, mas eu sempre subestimei a coisa do sentar a bunda na cadeira e escrever, reescrever, escrever, reescrever etc etc.

Quem sabe essa novo hábito num manda o Alê perfeccionista pra casa do caralho e liberta todas as outras vozes que sussurram aqui dentro?

Veremos.

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Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?*

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Hoje o dia começou bem.

Levantei pouco depois das 8 (já atrasado pra levar a Babi na escolinha, é verdade), mas o humor tava bom. Bru, Babi e eu fizemos nossa rotina, nossa dança matinal aqui em casa; deixei a pequena na escola, passei na padoca, tomei café com a Bru e sentei pra trabalhar. Ah, cortei o cabelo também.

A vida acontecia como sempre acontece, sem menores sustos ou traumas. Até que de repente, em algum momento da tarde, desmontei. Sabe quando parece que você deixa de saber quem você é, ou melhor, quando a gente se fragmenta e fica um pouco de nós em cada lugar no espaço e no tempo? Acho que foi isso.

E num aconteceu nada de necessariamente ruim. Não mesmo. Nem no trabalho, nem aqui em casa, nem na vida de nenhuma pessoa próxima (eu acho, né). Simplesmente foi como se todo o escuro do mundo descesse sobre a minha alma e eu simplesmente entrasse numa espécie de stand by existencial.

Daí estou aqui trancado no escritório, 23:01 de uma quinta-feira, tentando dar alguma espécie de sentido nisso tudo vomitando palavras.

Mas será que precisa ter sentido?

Digo, na terapia, às vezes, eu passo o tempo todo tentando achar razão nas minhas emoções, o que, por si só, já é um tanto contraditório – mas é meio que é isso que a gente faz numa sessão de terapia né? – e esqueço que, às vezes, a gente só precisa sentir o que a gente precisa sentir. Não só na terapia; essencialmente eu cresci dessa maneira: uma pessoa que sempre precisa encontrar um componente racional pra todo e qualquer soluço emocional.

O Alê racional vive em um estado de alerta quase que constante e passa a existência tentando se antecipar às armadilhas que o Alê emocional possa-vir-a-quem-sabe-talvez-tentar-criar, mesmo quando elas não existem. É como se fosse uma doença auto-imune da alma na qual o racional acha que o emocional é um inimigo se preparando pra atacar e, portanto, começa a se defender. No fundo não está se defendendo de ninguém e apenas gastando energia pra, finalmente, sentar num cantinho escuro da minha mente.

Confuso? É, eu também acho. E não é só confuso, é agressivo também, porque incomoda, dá nó na garganta pra um choro que nunca chega e, eventualmente, me empurra pra uma inércia em que eu fico esperando o cérebro entender que deu ruim e, literalmente, reiniciar.

O pior disso tudo é que vai passar (sempre passa), mas como e não sei exatamente o que isso é, quando acontecer de novo – e vai – ficarei novamente refém de mim mesmo.

O ser-humano é todo errado.

Até semana que vem.

*Trecho do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos escrito em 15/1/1928. 1ª publicação in Presença, nº 39. Coimbra: Jul. 1933.

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